Virada

7 de agosto de 2020

O vento quente demais para o outono parou e tudo ficou em suspenso. Me lancei então pela trilha e fui até a praia para sentir a virada do tempo. Na beira do mar, uma leve brisa do mar sugeriu o que as pequenas nuvens escuras com veias elétricas já anunciavam com clareza. 

Corri para a água gelada e me pus a mergulhar com as ondas suaves enquanto ainda era possível. Aqui e ali, um e outro desavisado caminhava despreocupado curtindo aquele gentil peso abafado de calmaria. Do horizonte da ilha ao sul, a marcha das nuvens seguia sem alarde pelo mormaço do céu que refletia no ainda liso azul do mar. 

Ouvidos atentos, olhos atentos, pois tudo na vida pode estar por um segundo. Eu já estava avisado. E então um zunido varreu o marasmo com a primeira grande lufada de areia a voar pela praia. E logo as ondas passaram a encrespar o mar com espumas brancas cobrindo toda a superfície salgada, nas ritmadas rajadas do majestoso vento sul. 

Nadei empolgado nas águas agora revoltas em direção à praia. Tudo era movimento. Corri pela areia, a sentir as chicotadas ásperas da areia em meu rosto, em meu peito, em minhas pernas, em minha carcaça humana encharcada de pingos salgados. Gritei para entrar em sintonia e melhor sentir a energia da vida a pulsar e com ela me integrar. Marquei em meu corpo mais uma passagem cíclica do inexorável tempo da natureza, a chegada da frente fria. Estava triste, mas agora ria.  

 

 

 

 

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