23 de junho de 2019
Apresentar o filme “Shapes & Fia.” numa exibição ao ar livre projetada na parede do Museu Anita Garibaldi no Centro Histórico de Laguna foi uma experiência inspiradora.
Fui a convite de Arnaldo Russo, que no início do mês abriu ali na praça a Livraria Coruja Buraqueira - a primeira livraria da cidade depois de 27 anos! - e desde então vem promovendo atividades artísticas gratuitas, num movimento de ocupação cultural do espaço público da cidade.
A alegria de ver a cidade ganhar uma livraria por si só já é uma noticia a ser celebrada. E o absurdo de uma cidade como Laguna ficar décadas sem ter uma livraria é revelador do deserto cultural que assola um país doente, onde a maioria das cidades possuem uma farmácia em cada esquina e nenhuma livraria ou sala de cinema.
Mais feliz ainda fiquei em conferir a beleza do espaço e a qualidade das obras literárias selecionadas na livraria. Nota 10! Arnaldo me explicou que o nome da livraria remete às características de resistência e ocupação de espaços abandonados da coruja buraqueira. "Esta coruja tem o nome de “buraqueira” porque vive em buracos, ou tocas, abandonados por outros animais, como tatus. Se necessário, ela mesmo cava um buraco, mas prefere se apossar de buracos abandonados." (descrição do site Aves de Rapina do Brasil). Faz todo sentido.
Movido por este sentimento, procurei expressar ao público de cerca de 50 pessoas de todas as idades que se reuniu no local (e que assistiu com interesse os dois documentários exibidos) a relevância desta ação de cinema ao ar livre promovida pela livraria: um verdadeiro ato de resistência cultural e ocupação do espaço público abandonado.
Nesse contexto, um filme como o “Shapes & Fia.”, que foi produzido de forma 100% independente, se integra a esta proposta de resistência cultural, apostando na produção audiovisual como um caminho construtivo, mesmo diante de todas as adversidades e falta de apoio.
E assim, este despretensioso filme sobre meu idolo no surf Fabio Gouveia lançado em 2016, que depois inspirou a criação de uma série de TV e rendeu prêmio em festival, me trouxe mais esta alegria de poder participar de um evento tão significativo.
Por fim, fica o desejo de que a ideia do Arnaldo se multiplique, que a livraria tenha longa vida e que a ocupação artística e cultural do Centro Histórico de Laguna se consolide - com mais iniciativas culturais e o surgimento de mais estabelecimentos comerciais que fomentem a vocação cultural, artística e turística da região.
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