6 de dezembro de 2016
Não é difícil saber onde encontrar Christian Herzog em Floripa. Surfista e fotógrafo dedicado, ele bate ponto quase que diariamente entre o Campeche e o Riozinho, onde, ao longo dos últimos anos, vem colecionando muitos tubos e belos registros das ondas e das paisagens destes picos icônicos do surf na Ilha de Santa Catarina
Há tempos admiro a qualidade dos registros de Herzog, seja em sua busca pela luz mágica dos primeiros raios de sol nas fotos aquáticas, ou na combinação do visual das ondas com os demais elementos da paisagem, onde o surf se ume à cultura da pesca e formação rochosa da ilha do Campeche. Nesta entrevista ele conta um pouco sobre as suas motivações e impressões ligadas ao surf e fotografia:
1 - Me conta como começou o seu envolvimento com o surf e com a fotografia e em que momento eles se uniram?
Minha primeira prancha foi uma Gordon Smith monoquilha removível, que ganhei de presente de minha mãe em 1986, aos 10 anos de idade. Meu primeiro surf com ela foi na praia dos ingleses, no verão de 86/87. Depois disso foi "amor a primeira vista". Como eu já andava de skate, o surf foi o esporte que eu praticava nas férias de verão quando eu vinha para Florianópolis ficar na casa de minha vó no Campeche. Eu sempre gostei de fotografia, e fotografava uma vez que outra de dentro e fora da água com a Kodak Sport, uma câmera descartável de filme.
Quando me mudei para Florianópolis em 2001, meu pai me deu uma Canon T50 de lente intercambiável, o que mudou minha visão da fotografia e fez eu avançar para o caminho da fotografia profissional, que na época ainda era com utilização de filmes diapositivos, também conhecidos como Cromos. Como eu vim para Florianópolis para mudar meu estilo de vida e surfar o máximo que podia, comecei a registrar alguns lineups e surfistas sempre que eu não estava surfando.
2 - Você faz um trabalho constante de documentação das ondas e paisagens da praia do Campeche. O que mais te atrai neste pico e o que te motiva a seguir produzindo “variações do mesmo tema”?
O que me atrai no Campeche é a ligação que tenho com esta praia desde os anos 80, quando vim para cá pela primeira vez. Eu já conhecia as outras praias de Florianópolis, mas sempre gostei da quietude e mar bravio daqui. A ilha do Campeche é outro elemento que atrai, pois não é qualquer lugar do mundo que você tem uma ilha a uma distância relativamente perto (1.800m mais ou menos) e com natureza tão exuberante. Aqui cada dia é um dia, então é difícil enjoar já que um novo dia pode significar a melhor foto de sua vida.
3 - Quais as suas lembranças mais marcantes de sessões de fotos e de surf no Campeche? Num dia clássico, como você lida com o dilema de querer surfar e fotografar ao mesmo tempo?
As lembranças marcantes que tenho são com relação ao passado. Florianópolis em si era um lugar bem isolado, com poucos habitantes. E o sul da ilha era o lugar com menos pessoas devido ao acesso ainda ser por estrada de chão batido. A única via asfaltada era a Av. Pequeno Principe. Nos anos 90, entre 1996 e 1998, lembro de ondas excelentes devido a uma combinação de bancada, direção de ondulação e vento. Depois disso, em 2005 e 2006 lembro também que deu outra combinação fantástica de direção de swell e vento, com um dia mais clássico que o outro.
Herzog não abre mão do surf. foto: Guel Varalla |
O dilema de surfar vs. fotografar sempre existe, e logo que comecei a fotografar eu fazia o seguinte: acordava muito cedo para ser o primeiro a entrar na água. Depois da sessão de surf que durava no máximo 1:30h, eu saía da água e ia fotografar. Hoje em dia, após alguns anos de fotografia, já fico mais tranquilo em relação a isso. Eu sempre fui bem "fissurado" no surf e atualmente estou mais surfando que fotografando, mas tento não perder os registros daqueles dias grandes e perfeitos, os dias épicos e históricos.
4 - Quais são as tuas maiores inspirações no surf e nas artes?
Eu tinha 10 anos em 1986, e uma das primeiras revistas que comprei foi a Fluir edição histórica com a capa de prata, onde tinha muitas fotos do Hang Loose que rolou na Joaquina. Eu cresci vendo surfistas brasileiros como Fabio Gouveia, Teco Padaratz, Tinguinha Lima, Daniel Friedman, Taiu Bueno, Ricardo Bocão, Cauli Rodrigues, Roberto Valério, entre outros, e eles eram minha inspiração, assim como os gringos Tom Curren, Tom Carroll, Mark Occhilupo, Derek Ho, Shaum Tomson e toda a geração que sucedeu eles.
Eu sempre ficava vidrado no estilo e nas manobras desse pessoal. Era muito inspirador para um adolescente skatista e surfista como eu. Nas artes eu não tenho ninguém especifico, mas sempre me chamou atenção nos trabalhos feitos com o coração, que se destacam pela persistência de atingir algum resultado satisfatório para o autor, o que acaba refletindo e resultando em algo deslumbrante aos olhos do espectador, seja ele o autor ou não.
5 - Se você tivesse uma verba ilimitada para produzir algum trabalho artístico ligado ao surf o que você faria?
Boa pergunta, nunca parei para pensar nisso. Talvez levar pessoas carentes ou que moram longe da costa para poder curtir um dia inteiro na praia e tentar conscientizar todos da importância que os oceanos exercem na vida da terra. Todos somos um, e todos dependem de um planeta livre de poluição, principalmente os micro plásticos que se transformam do lixo e acabam sendo ingerido pela vida marinha a acabam afetando toda a cadeia de reprodução da vida.
Conheça mais sobre o trabalho de Christian Herzog clicando aqui
Um comentário:
Nossa! Momentos especiais eternizados nas fotos. Parabéns pela reportagem!
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