7 de novembro de 2016
Fazer as coisas com coração e propósito é o que move Thomaz Crocco, vulgo Tz Jamur. E foi imbuído deste espírito que este surfista e designer gaúcho foi em busca de seus sonhos, produzindo filmes com sua produtora Jamur e idealizando o festival MIMPI, que promove a união de filmes de surf e skate com muita música e arte visual, numa grande confraternização anual - que este ano acontece entre os dias 12 e 15 de novembro no Rio de Janeiro.
Bastam poucos minutos de conversa com Thomaz para sentir que o seu envolvimento com o surf e as artes são guiados pela busca de um crescimento espiritual, também vivenciada na prática constante do yoga. E é esta energia agregadora que transformou Thomaz e o Mimpi em referências para toda uma geração de criadores audiovisuais ligados ao surf e o skate. Hoje radicado em Garopaba, após ter morado na Califórnia e na França, ele compartilhou um pouco de suas ideias e visão de mundo na seguinte entrevista:
1 - Me conta um pouco sobre como se desenvolveu a tua relação com o surf e com as artes e como você enxerga a ligação entre estas atividades?
O surfe iniciou em Atlantida (RS) onde meus avós tinham uma casa e lá passava os verões. Foi durante os anos 80, o nosso vizinho era o Geraldo "Boto" Ritter e a galera deles estava sempre na frente da casa dele e aquilo me seduziu e inspirou. Meu pai me ensinou a "pegar jacaré" e ter cuidado com as correntezas e buracos, bem perigosos nesse litoral, e por ser asmático sempre fiz natação em Porto Alegre.
A arte veio de casa, com minha mae Heloisa Crocco e na chácara dos meu avós em Canta Galo (zona rural de Porto Alegre). Com 18 anos fui morar em San Diego na Califórnia e lá me dei conta que o surfe era uma maneira de viver possível e não uma utopia como se parecia na minha realidade até então. Foi uma experiência transformadora e não teve mais volta.
Eu hoje percebo que os dois são atividades de liberdade, expressão, realização pessoal e conexão espiritual.
2 - O Mimpi é hoje mais que um festival de filmes de surf e skate, reunindo diversas artes, em especial a música. Como você avalia o conceito e a evolução do evento ao longo dos anos e o que buscou na curadoria para a edição 2016?
Eu fico muito feliz com a evolução do MIMPI, nem sempre é fácil ver um filho crescer, mas junto com a Void a gente faz com amor e dedicação pra ficar cada vez mais legal. Percebo que cada vez mais temos filmes com coração e propósito, além de qualidades técnicas.
Na curadoria acho importante diversificar bem, compartilhar diferentes olhares e estilos, sempre valorizando filmes originais e corajosos, de verdade e com propósito. O nome do festival significa sonho em língua indonésia, portanto ver que tem sonho na produção é a base do meu critério de seleção. Nosso propósito maior é incentivar as pessoas a seguir o seus sonhos e buscar a realização pessoal.
3 - Atuando como designer, realizador de filmes e organizador de festival, como você lida com a questão do excesso de estímulos visuais no mundo atual, onde vivemos cercados por vídeos e imagens por todos os lados?
Eu acho que é saudável, pois a gente tem oportunidades incríveis de ver locais, culturas, ideias, estilos, técnicas e cada vez mais tem menos espaço para o que não é de verdade. E uma historia boa é muito melhor que todas as evoluções tecnológicas.
4 - Cite algumas de suas principais inspirações no universo das artes, dentro e fora do surf?
Minhas inspirações hoje em dia é ver coisas simples e poéticas. Gosto de ver arte urbana engajada, tenho um prazer em ver intervenções. Dos clássicos sempre admirei Kandinsky, Klee e Gauguin, caras que transcenderam a técnica.
As quebras de paradigmas como os Dzi Croquettes também são performances que inspiram. Sebastião Salgado pela entrega e rigor técnico e minha mãe Heloisa Crocco pela sutileza, sensibilidade e inspiração na natureza.
No surfe eu sempre gostei de Jack McCoy com a psicodelia e humor sutil, os Cambitos, filmes que contam uma historia como o Zen & Zero. Eu adoro pranchas de surfe, acho que são verdadeiras obras de arte e uma ferramenta para essa conexão espiritual, são objetos sagrados. A estética das marcas de surfe também, gosto dos logos e conceitos gráficos, coleciono adesivos.
Joel Tudor se expressa com muita elegância e originalidade dentro d'água, o Neco (Padaratz) também é um estilo que eu gosto tem uma conexão forte e espiritual com os elementos. Vendo o surfe brasileiro como forma de expressão, eu gosto muito do nosso estilo, ele representa muito a nossa personalidade, a nossa cultura, intuitiva, livre, selvagem.
O brasileiro aprendeu a surfar sem uma escola ou referência marcante, e sim foi pra agua e fez, com as ondas que tem, e esse resultado eu acho lindo, Peterson (Rosa), Mineirinho, Italo (Ferreira), Neco, Pedra (Rodrigo Dornelles), Pedro Muller, Fabinho (Gouveia), adoro ver eles surfando.
5 - Se você tivesse uma verba ilimitada para produzir algum trabalho artístico ligado ao surf o que você faria?
Acho que seria a implantação de refúgios do surfe em cada praia e cidade,um local para desenvolver a consciência dos valores verdadeiros, onde seria possível treinar, ter práticas espirituais, assistir filmes, algo ligado à formação de surfistas e artistas, criar filmes e trabalhar técnicas de arte em geral.
Além de consciência de sustentabilidade com a produção de hortas e pomares e a utilização desses recursos, o desenvolvimento de pranchas e acessórios ecológicos.
Nas cidades que não tem mar, poderia ser construido uma piscina de ondas tipo aquela do Kelly (Slater) pra galera ir na hora da educação física ou lazer e que funcionasse com energia solar ou outra maneira sustentável.
Créditos: foto de surf - Ana Catarina Teles. Demais fotos: acervo pessoal e projeto Rekombinando
Um comentário:
grande Gaucho !!abraço
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