O Maior Céu do Mundo

16 de setembro de 2013


Avisa pra ela que tem uma praia lá no sul onde os ventos incessantes nos fazem levitar e que o mar aberto se estende em paralelo com as areias infinitas ao olhar. Avisa pra ela que lá o céu é o maior que já se viu, parece que vai te engolir, e que o horizonte também é mais aberto e distante, a perder de vista.

Avisa pra ela que foi lá onde tudo começou e tudo há de acabar. Que é o pequeno paraíso guardado da infância, imutável apesar de tantas mudanças. Que quando criança, a luz elétrica era escassa, telefone e televisão não existiam, e que quando as tempestades de verão chegavam aos trovões, e os raios cortavam como arame farpado o maior céu do mundo, nós nos escondíamos dentro de casa, vendo a água invadir a sala, entrando pelas frestas das portas. Que a luz fatalmente caía e as velas acesas debilmente combatiam o apagão, e tínhamos a sensação de que a natureza era a representação máxima de um poder supremo.

Avisa pra ela que, ao primeiro sinal de estio, corríamos para as ruas de chão batido olhando para o céu - o mais aberto do mundo - e começávamos a contar as estrelas que pipocavam na escuridão. Que, em fascínio, localizávamos as referências de sempre – as três-marias, o cruzeiro do sul – e de repente a visão ficava tão clara, tão contrastante com a escuridão total da praia, que as estrelas passavam a se confundir e se fundir em manchas brancas, a via Láctea e outras galáxias a perder de vista. E que nenhum telescópio poderia aproximar-se da grandeza do espaço daquele céu, visto por nossos olhares inocentes.

Avisa pra ela que mesmo com luz elétrica mais confiável no passar dos anos, tínhamos sempre a alternativa de correr para trás das dunas e bloquear parcialmente as luzes das casas e dos postes, que nos impediam de enxergar a totalidade da beleza e infinitude daquele céu mágico - o maior céu do mundo -, onde nos perdíamos em devaneios e sonhos de grandeza, apesar dele nos revelar de forma tão bela, a nossa total insignificância. E hoje vejo, que posso estar em qualquer parte deste mundo, trancafiado num quarto escuro e abafado, e ainda assim, poderei fechar os olhos e lembrar da liberdade que a vastidão daquele céu estrelado proporcionava.

Avisa pra ela também, que sou um alguém mais feliz por haver experimentado isso e que nada poderá arrancar este tesouro de mim, pois será para sempre o meu patrimônio da memória: o maior céu mundo, aquele que pode me levar para longe, além de qualquer lugar.


Texto publicado originalmente no site Overmundo em 2007
Crédito imagem: 8tracks.com

4 comentários:

miguelaragao disse...

Fica descansado que eu avisá-la-ei...Embora me pareça que também ela o experimentou!
É sem dúvida uma enorme descrição, mas que nem assim alcança a(s) verdadeira(s) dimensão(ões) daquele espaço.
Lá nos encontraremos...

Rita Elisabete disse...

Avisa pra ela que eu também estive lá, e estou sempre.... Que lindo, me emocionei!

Rita Elisabete disse...

Avisa pra ela que eu também estive lá. É mesmo fantástico. Lindo!!! Emocionada...

Anônimo disse...

Lindo , lindo !!Todos nós passamos por esta experiência em Jaguaruna

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