Água Salgada Nas Retinas

28 de outubro de 2011



Em setembro publiquei uma matéria na revista Hardcore sobre a nova geração de videomakers do sul do Brasil. O conteúdo surgiu a partir de uma pauta inicial que desenvolvi com a geração anterior, formada pela turma de cariocas que começou essa história de videos de surf no Brasil. Pensado para publicação em revista, o texto que reproduzo a seguir é longo, mas certamente vale a pena para quem quer conhecer melhor a evolução da produção de filmes de surf no Brasil. Boa Leitura!



Mellin e Marcelus apontam para a foto do trio Pepê, Bomba e Júlio

Quem decidir fazer uma lista dos filmes de surf nacionais lançados a partir do final da década de 80 irá invariavelmente encontrar os nomes de Julio Adler, Pepê Cezar, Rafael Mellin, Marcelus Viana e Gustavo Bomba nos créditos destas produções. Juntos, estes parceiros que se conheceram na Zona Sul do Rio de Janeiro ajudaram a produzir os primeiros vídeos do gênero no Brasil e algumas das mais relevantes produções atuais.

Representantes da geração do final dos anos 80, em que os camaradas costumavam se reunir na casa de alguém para curtir as noites em sessões de vídeos VHS de surf regadas a pizza e cerveja, os cinco amigos de diferentes idades e talentos passaram a buscar os meios para se aventurar por conta própria na produção de imagens de surf, uma atividade sem nenhuma perspectiva de futuro no Brasil.

Apesar da redescoberta do surf na mídia como fenômeno da juventude na virada dos anos 70/80, a única chance de ver as ondas projetadas numa tela antes do advento do VHS era através de lançamentos cinematográficos bissextos, como no pioneiro “Nas Ondas do Surf” (1978) de Lívio Bruni Junior, ou produções onde o surf aparecia apenas como mais um elemento da juventude urbana, em ficções como “Garota Dourada” (1984) de Antonio Calmon.



Na televisão, a novela “O pulo do gato” (1978) de Bráulio Pedroso trazia o primeiro personagem surfista da teledramaturgia brasileira: o surfista Billy interpretado por Kadu Moliterno - um papel que viria consolidar o estereótipo do surfista na televisão e renderia ao mesmo ator o inesquecível personagem “Juba” da série “Armação Ilimitada” (1985) na TV Globo. Mas foi com o surgimento do programa “Realce” (1983) da dupla Ricardo Bocão e Antonio Ricardo, que a linguagem jovem do surf se consolidaria definitivamente na televisão brasileira. O sucesso instantâneo do programa mostrou que havia um mercado a ser explorado, com um público cativo.

Havia também o início das revistas especializadas, mas era na grande tela do cinema que a magia das imagens de surf podia ser sentida em sua plenitude. Numa época em que o acesso a produtos culturais era muito difícil, as exibições organizadas pelos irmãos Lumbra entre 1984 e 1992 marcaram época, com eventos itinerantes que deixavam os jovens surfistas extasiados.

Carioca por adoção desde os cinco anos de idade, o gaúcho Marcelus recorda as exibições de filmes como “Free Ride” (1977) de Bill Delaney e “Bali High” (1981) de Stephen Spaulding no auditório do extinto Hotel Nacional no Rio de Janeiro como a gênese da sua paixão pelos filmes de surf: “Todo ano esperávamos o verão chegar para ter uma nova chance de ver os filmes gringos na telona”, relembra.


Free Ride intro (Bill Delaney 1977) por glide64

E se a experiência de estar na platéia nessas sessões de cinema imprimiu mais água salgada nas retinas dos já fissurados surfistas amadores Marcelus, Julio, Pepê e Bomba, a influência dos primeiros lançamentos em VHS do videomaker norte-americano Taylor Steele, com sua trilha sonora e estética “hardcore” foi a prova definitiva de que era possível fazer filme de surf por conta própria com câmeras amadoras de video. Outras produções como os vídeos da divertida série Sarge`s Scrapbook do australiano Paul Sargeant – “ainda mais toscos que os do Steele”, ressalta Julio – e clássicos como “The Green Iguana” (1992) do mestre Jack McCoy também rodavam sem parar no videocassete da turma, com sua trilha sonora poderosa e imagens dos melhores surfistas da época.


Pepê surfando na Reserva nas antigas

Radicado em Pernambuco durante a infância, o carioca Pepê Cézar voltou ao Rio de Janeiro aos 15 anos para tentar a sorte como surfista profissional, mas teve que abandonar a carreira precocemente apenas cinco anos depois, devido a uma séria lesão no joelho. Ele então começou a filmar em meados dos anos 80 como forma de manter-se em contato com o surf.

Estimulado pelo amigo carioca Julio Adler - que ainda seguiu em frente como competidor, chegando a sagrar-se campeão carioca profissional em 1990 - e influenciado por filmes como “Beyond Blazing Boards” de Chris Bystrom (1984), cujo lançamento ele pode conferir de perto quando passou uma temporada na Califórnia, Pepê criou sua primeira produção relacionada ao surf: “Competições no Pacífico” (1987), com a estética de cobertura bem humorada de campeonatos mundo afora característica dos videos de Sargeant e do programa Realce, que foi a sua escola.



O filme chamou atenção, atraindo os futuros parceiros de produção: “O Júlio é meu amigo desde criança e tínhamos o sonho de viajar o mundo atrás das ondas. Um dia fomos assistir a uma exibição de “Competições no Pacifico” em Ipanema e nos aproximamos de Pepê”, relembra o carioca Gustavo Toledo, o “Bomba”, que também participava de campeonatos amadores e foi o catalisador da turma na produção de arte e conteúdo ligada ao surf.



Bomba em dois tempos

A primeira aventura conjunta foi no jornalismo em 1993 com o jornal cult Wet Paper - o “Pasquim do surf” segundo Pepê – um projeto de Julio, Pepê, Marcelus e Bomba que durou seis edições e contava com a participação dos fotógrafos Agobar Júnior e Ernesto Baldan. Impresso em São Paulo e montado durante à madrugada no Centro do Rio, o Wet Paper exigia uma cansativa, porém divertida, logística de produção e distribuição de seus 5 mil exemplares, uma carga pesada que certa feita arriou o Gol do pai de Bomba na hora do transporte. “Foi o Bomba que assinou o cheque do WetPaper e tornou-se uma espécie de mediador da turma”, afirma Júlio, que participava ativamente da edição junto com Marcelus.



Esta experiência embrionária atestava a velha máxima de que quando se faz as coisas com prazer, o esforço sempre vale a pena, recompensado pelo valioso aprendizado de “botar a mão na massa”. Assim, quando Julio tomou a decisão de torrar uma grana de herança na compra de uma câmera Canon XL1 e junto com Pepe e Bomba produzir o fillme “002 Surf” (1994), ele acelerou a sua transição de surfista profissional para uma bem-sucedida carreira de jornalista e editor de filmes, consolidada a partir de 1997, graças aos ensinamentos de Pepê. Nascia ali o que poderíamos chamar, com muito boa vontade, de um “mercado de filmes de surf no Brasil”, com uma produção constante de títulos disponíveis para aluguel em video-locadoras e vendas diretas pelo correio.



Os amigos que durante anos curtiram filmar uns aos outros nas ondas dos campeonatos começaram a produzir a série Cambito (1996) – nome inspirado na chamada “perna brasileira” do circuito internacional de surf – que influenciou decisivamente uma nova geração de surfistas brasileiros e trouxe para a tela o talento de nomes como Victor Ribas, Binho Nunes, Marcelo Trekinho e Renato Wanderley. Na época, a estética dos vídeos ainda era muito centrada na cobertura de competições, nos moldes do programa Realce, produzidas na Unigraf de Ricardo Bcão, onde Júlio posteriormente realizaria um estágio, editando vídeos nas jurássicas ilhas Hi-8.



O auge dessa fase foi o volume 03 da série Cambito (1998), o primeiro filme de surf nacional gravado no então moderno formato mini-DV e que contou até com uma inédita turnê de divulgação pelo Brasil afora. As vendas de mais de setecentas cópias pelo correio e surf shops – devidamente anotadas num caderno de Marcelus - era um feito a ser comemorado: “Foi uma época muito divertida, onde produzíamos quando queríamos e depois fechávamos a produtora para viajar pelo mundo por dois meses”, lembra Marcelus, que já começava a emplacar rentáveis vídeos institucionais para clientes diversos fora do universo do surf.



Na época dos Cambitos, Rafael Mellin, o mais novo da turma, ainda era um jovem estudante de jornalismo que começava a brincar de edição, montando a sua própria versão do filme “Kelly Slater in Black & White” (1991), conectando dois aparelhos VHS e compilando somente as partes mais legais do filme. Logo vieram as filmagens junto aos amigos, com o objetivo de poderem ver a si próprios surfando. A brincadeira ficou mais séria quando Mellin foi estagiar na KN vídeos, onde conheceu Marcelus e junto com Rafael Gross iniciou também a sua própria trilogia: “Lombrô” (1998–2003), que funcionou como plataforma de lançamento de toda uma talentosa geração de surfistas, como Raoni Monteiro, Léo Neves e Pedro Henrique.

Outro destaque das séries Cambito e Lombrô eram as trilha sonoras (essenciais em qualquer filme de surf) que traziam em primeira mão o som de algumas novas bandas do rock nacional que viriam a fazer grande sucesso, como Raimundos, Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S.A: “O Júlio foi o cara que fez a diferença na parte musical, sugerindo o uso de trilha sonora nacional, o que acabou imprimindo uma identidade própria aos filmes”, relembra Mellin, ressaltando que a maioria dessas bandas sequer tinham discos oficiais lançados naquela época.



Mas, aos poucos, a estética “rock pesado e edição com cortes secos” de Taylor Steele e a crueza dos videos de Payl Sargaent começou a se desgastar e foi preciso buscar novos caminhos e referências. Julio lembra que o clássico “Litmus” do australiano Andrew Kidman (1995) foi um divisor de águas ao mostrar “que era possível fazer um filme mais artístico dentro da estética limitada do formato vídeo”. Percebia-se também que a narrativa dos filmes poderia ir além do que simplesmente registrar sessões de surf pelo mundo com uma trilha sonora ao fundo. Junto a isso, veio também o interesse de empresas nacionais como a fabricante de pranchas Super Glass - hoje Wetworks - em investir na produção de seus próprios vídeos para divulgar as suas marcas.

Foi desta fonte que surgiria o clássico “Trocando as Bordas” (2000), uma produção da qual participaram Pepê, Julio e Bomba, onde a veia poética de Pepê se manifestou na inserção de cartelas com textos reflexivos e imagens em camera lenta, realçadas pela bela trilha sonora original de Jonas Rocha, que também assina a direção do filme. “O desenvolvimento de uma linguagem é mérito do Pepê. Foi ele o primeiro a filmar e a consolidar um olhar único, que eu e o Marcelus complementamos com a nossa identidade gráfica”, afirma Bomba, que exercia as funções de cinegrafista e diretor de arte nas produções do grupo.



Inspirados neste conceito mais artístico e apoiados por grandes marcas de surfwear e revistas que vendiam os filmes encartados com as suas edições, eles conseguiram engatar a produção de uma série de vídeos nacionais nos anos seguintes. Foi assim que Mellin construiu a filmografia mais consistente de um diretor brasileiro em termos de volume de lançamentos.

Na última década, ele realizou trabalhos para marcas como Rip Curl – na ‘serie “Search Sessions” (2000 – 2002) - e Hang Loose – como o premiado “Samba Trance & Rock N`Roll” (2004), “Quintal de Casa” (2006) e “Pasti” (2009), filmes que contaram com a com a edição de Júlio e a arte de Bomba e Marcelus, sempre envolvido com a identidade visual destes projetos. “Marcelus é o motor que sempre fez tudo acontecer, com sua veia de designer capaz de virar madrugadas para cumprir prazos apertados”, atesta Bomba.

Reunir imagens de ondas, manobras e cenários paradisíacos atrai um público fiel, porém restrito, e foi neste cenário de filmes encomendados por marcas de surf que os cinco personagens dariam um significativo passo a frente ao criar a sua pequena obra-prima: “Fábio Fabuloso” (2004), a deliciosa biografia do surfista paraibano Fábio Gouveia. De um vídeo promocional do atleta da Hang Loose o projeto ganhou corpo e se tornou um premiado documentário que transcendeu o nicho do surf atraindo uma platéia abrangente e alcançando reconhecimentos importantes de público e crítica – Prêmio Bravo de Cultura Prime 2005 e prêmios do júri popular no Festival de Cinema do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2004, concorrendo com produções milionárias sobre os mais diversos temas.



Inspirado na literatura de cordel e mesclando de maneira original algumas referências improváveis como o “Forró da Lagartixa” e os filmes “Ilha das Flores” e “O Segredo de Amelie Poulain”, o filme é narrado brilhantemente pelo próprio roteirista e diretor Pepê. O resultado mostra de uma forma leve e divertida a trajetória vitoriosa de Gouveia pelos quatro cantos do mundo, numa edição baseada no extenso arquivo de imagens de Bocão e Antonio Ricardo – que por conta disso também assinam a direção. “A força do filme é tão grande que depois disso o Fabinho acabou incorporando o seu próprio personagem”, diverte-se Pepê, que contou com a valiosa ajuda dos eternos parceiros na empreitada. Juntos, eles relembram com saudades dos muitos meses enfurnados no apartamento de Pepê em Ipanema editando madrugada adentro as centenas de horas de entrevistas e imagens de arquivo, num processo colaborativo de construção, que resultou no filme.

Mas apesar do sucesso de “Fábio Fabuloso”, o alcance de mídia não garantiu a consolidação do gênero “filme de surf” como uma atividade profissional viável no Brasil. E se ainda hoje este tipo de projeto não é o ganha-pão principal de cada um, a produção cultural envolvendo o surf acabaria definindo o caminho profissional que se seguiu. Isso porque, de alguma maneira, eles ainda vivem do surf, seja escrevendo, filmando ou desenhando em torno do tema – a exceção de Bomba que, cansado da insegurança estressante do Rio de Janeiro se mandou para a Austrália há cerca de dois anos e hoje se dedica a ensinar jiu-jitsu e a surfar nas bancadas da região de Adelaide. Ainda assim, volta e meia ele faz algum trabalho de design gráfico com Marcelus, graças às maravilhas da comunicação online.



Com o tempo, o mercado de VHS virou pó e o de DVDs segue na mesma direção, mas, por outro lado, a era da internet e da TV a cabo certamente passou a oferecer novas possibilidades a serem exploradas. Na linha de frente destas novas mídias, Mellin e Marcelus se uniram para criar em 2005 o Grupo Sal, uma agência multimídia de produção criativa de programas de TV e publicidade.

Juntos, eles continuam a atuar no seleto grupo de profissionais que produzem conteúdo relacionado a surf no Brasil, introduzindo o mundo das ondas ao formato reality-show em séries para TV a cabo como “Batom & Parafina” e “Nalu Pelo Mundo”, que registra a vida em família do surfista Everaldo Pato pelos quatro cantos do mundo. Em 2011, eles produziram alguns vídeos de grande sucesso na internet para a Nike 6.0, mostrando a sensação brasileira Alejo Muniz em uma surf trip pela África, as vésperas de sua estréia na elite do circuito mundial, além de outros trabalhos para a marca.



Mellin e Marcelus filmando em diferentes épocas

Diante destas realizações, Bomba ressalta a obstinação de Mellin como o único dos cinco amigos que poderia um dia vir a ganhar um Oscar, pela ousadia, ambição e talento de acreditar em novos projetos e correr atrás de sua realização com a mais alta qualidade. Mas apesar de todo este sucesso e talvez pelo único motivo de trabalharem no Brasil e não na Califórnia, estes profissionais ainda não possuem o status de “artista” atribuído a Thomas Campbell – com sua estética retrô dos filmes em película – ou o título de “mestre do marketing” de um Taylor Steele.



O imediatismo da internet certamente incentiva o surgimento produções cada vez mais curtas e dinâmicas e as marcas de surf hoje em dia tem nas produções audiovisuais apenas mais um veículo para vender seus produtos do que propriamente gerar receitas com a venda dos filmes. Ainda assim, conseguir aproveitar a beleza visual do surf para contar uma boa história continua sendo o maior desafio para se atingir a um público mais amplo: “O Taylor Steele é hoje o diretor mais bem-sucedido e badalado no mercado de surf, mas, apesar da beleza visual de seus filmes ele ainda não aprendeu a contar uma história”, alfineta Júlio, com sua sempre divertida e certeira veia irônica.



Mellin e Marcelus em ação

Outro ponto interessante é a aparente segmentação entre “filmes de performance” (geralmente ligados à publicidade dos atletas de grandes marcas) e os “filmes de arte”, com produções independentes que buscam mostrar o lado mais poético de deslizar sobre as ondas. “Das produções recentes o “Modern Collective” (2010) do Kai Neville é o melhor filme em termos de performance”, aponta Mellin, que destaca o nome de videomakers nacionais como o carioca Gustavo Camarão e o catarinense Pablo Aguiar como novos realizadores de destaque no Brasil.

Já no quesito “filme de arte”, Marcelus indica as produções de Thomas Campbell e da turma da Woodshed Films - leia-se irmãos Malloy - como importantes referências, apesar de considerar que a sua formula está se tornando um tanto repetitiva. Na internet, Júlio é fã da proposta “faça você mesmo” criada por Cyrus Sutton nas séries produzidas em seu site Korduroy.tv.



“E aí, já conseguiu descobrir se existe um mercado de filmes de surf no Brasil?”, provoca Pepê ao final de nossa conversa, em referência ao tema inicial desta pauta. A julgar por ele próprio, que diz ter voltado a pegar onda pra valer recentemente, o surf continua a exercer um papel importante em sua atividade profissional embora não pague todas as contas no fim do mês. Em sua produtora Artezananto Digital, Pepê produziu o documentário “Só Dez Por Cento é Mentira”(2008) sobre o poeta Manoel de Barros e está em fase de captação de recursos para o documentário reunindo perfis de cinco personalidades ligadas ao surf. O poeta ainda extravasa a sua arte no blog Dezlimites e nos livros Puizía e Concepção de Frases em Ninhos de Água.


Julio num dia clássico em Grumari em 92

No caso de Julio, ele é certamente o jornalista de surf nacional mais reconhecido atualmente na mídia especializada, escrevendo textos para sites e revistas no Brasil e no mundo. O seu conhecimento enciclopédico sobre os temas que lhe são caros - surf, música e literatura - está registrado nas estantes repletas de títulos de seu apartamento em Ipanema, batizado pelos amigos de “Centro Cultural Julio Adler”.

Há cerca de dois anos ele esteve no Festival de Anglet na França para receber os prêmios conquistado pelo blockbuster "Surf Adventures 2" (2009) dirigido por Roberto Moura – outro pioneiro na produção audiovisual de surf -, que junto com o primeiro filme da série em 2002, dirigido por Arthur Fontes, foram responsáveis pela volta do surf ao cinema no formato película.

Fora do surf, Julio também se dedica a outros projetos como o documentário “The Last Hour of Summer” e é bastante requisitado para editar videoclipes para músicos do calibre de Djavan. Na internet, ele comandou o inovador programa “Séries Fecham” com os surfistas Marcelo Trekinho e Marcos Sifú, onde promovem um bate-papo descontraído com convidados do mundo das ondas.



E assim, à luz das múltiplas atividades destes personagens, o questionamento inicial sobre a existência de um mercado de filmes de surf no Brasil torna-se menor diante da constatação de que quem se aventura em produzir conteúdo audiovisual ligado ao esporte faz isso movido por uma paixão genuína e satisfação pessoal.

Se alguma coisa mudou neste cenário nos últimos anos é a multiplicação nas plataformas de mídia para estas produções, que permitem criar um produto para ser exibido no cinema, encartado numa revista, disponibilizado gratuitamente na internet ou mesmo oferecido como brinde para quem compra uma bermuda de uma marca de surfwear. E se o dinheiro não é lá essas coisas, resta o incentivo de saber que este desejo de realização irá influenciar positivamente em qualquer outra atividade profissional que permita alguma estabilidade financeira e ainda “manter a água salgada nas retinas”, como eles gostam de dizer.


Créditos das fotos: acervo pessoal dos entrevistados - fotógrafos identificados: Luiz Pires, Ricardo Borghi, Fábio Minduim, Kalani Brito, Rick Werneck

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