Arte Ilimitada

8 de fevereiro de 2011



Um dos maiores prazeres de escrever este blog é poder conhecer as pessoas por trás de iniciativas interessantes ligadas ao surf. Pelas ondas da internet pude trocar ideias com figuras como Tom Veiga e Jair Bortoleto, dois artistas que, a sua maneira, promovem a surf art brasileira com qualidade pelo mundo afora. Mais legal ainda é ser procurado pessoalmente por estes artistas, como há alguns dias quando o fotógrafo Paulo Armando, que estava de passagem por Floripa, aproveitou para me mostrar o seu trabalho ligado ao surf.

Criar novas possibilidades dentro de um universo inspirador como o surf é fonte de prazer direta para um artista e muitas vezes isto é visto com um certo olhar de desprezo por pessoas menos afortunadas que não aceitam que uma atividade denominada "trabalho" possa tornar um dia mais feliz. Ainda mais em um terreno subjetivo como a arte. Portanto, não gosto particularmente de emitir juizos de valores sobre trabalhos como a badalada Série Waves do Tom, nem a Unlimited Ocean Serie do Paulo, ou a construção coletiva do projeto Jazzy Way To End A Day de Jair.



O que me motiva acima de tudo, em cada um destes projetos, é a inspiração em ver pessoas que correm atrás de materializar o seu sonho criativo encontrando formas de dar vazão à sua expressão artística e investindo em uma realização pessoal que não pode ser medida apenas em visibilidade de mídia ou retorno financeiro.

Curitibano radicado em Santa Cruz do Sul (interior gaúcho), Paulo Armando é um fotojornalista autodidata que há poucos meses tomou a decisão de fazer do mar e das ondas a sua inspiração profissional e não ficar somente preso na rotina de assessor de imprensa. Desta ideia surgiu a sua Unlimited Ocean Serie, com fotos de natureza em paisagens do litoral de Santa Catarina, região para onde ele foge com suas lentes e prancha sempre que as atribulações do dia a dia permitem.



Apesar de ser um tema recorrente, o surf é apenas mais um elemento dentro da composição de apreciação da paisagem e valorização da natureza que Paulo busca promover com sua Unlimited Ocean Serie, que, como o nome já indica, é uma coleção ilimitada sem prazo de validade nem número máximo de fotografias. A proposta de conscientização ambiental que ele atribui ao seu trabalho está implicita no simples fato das pessoas refletirem sobre a beleza que transborda em cada momento captado junto à natureza, já que, num mundo perfeito, todos nós deveriamos ter a motivação de preservar aquilo que reconhecemos como belo e inspirador.

Paulo tem levado a sua coleção de fotos emolduradas para exibição em cafés e shopping centers divulgando o seu trabalho em lugares de grande circulação de público e com a intenção de futuramente reunir a sua obra em um livro fotográfico. Suas palavras serenas revelam a motivação maior de poder transmitir sentimentos positivos a partir de suas imagens do que propriamente focar no lado comercial - ainda que suas obras possam ser adquiridas através do seu site.



Conterrâneo e amigo de Paulo de longa data, Tom Veiga é provavelmente o artista de surf brasileiro com maior repercussão de mídia nos últimos tempos, com a sua também ilimitada Série Waves, que reúne obras batizadas com o nome de ondas e traz um traço e um colorido singular que imprimem unidade e consistência ao trabalho do artista.

"Sempre estou trabalhando em uma arte nova, praticamente todos os dias desenho alguma no papel, e com isso tenho aperfeiçoado o meu traço a cada nova onda. Tenho estudado muito como refletir uma determinada onda explorando ao maximo seus detalhes e particularidades, tentando refletir a onda com o mínimo de traço possivel e cada vez que faço isso aprendo algo novo", expica Tom, acrescentando que tem também explorado outra formas de desenho como pintura a óleo para que a sua arte seja "adptada e inovada, sem perder a essência do meu estilo, que é cor, movimento e poucas linhas".

A visibilidade alcançada por Tom é extensa em número e variedade de publicações onde sua arte ganhou destaque - fato este que até me desanimou de fazer um perfil com ele pra não chover no molhado. Tid Magazine (Alemanha), Surfer`s Path (Australia), Liquid Salt (EUA), Drift (Inglaterra) e publicações nacionais, como Hardcore, Fluir, Parafina, Alma Surf e Solto são citadas pelo artista entre as mais relevantes. "Fico feliz cada vez que vejo que as pessoas tem considerado meu estilo a ponto de publicarem em seus sites, revistas e blogs, e eu considero cada post importante e de grande valor, pois isso valoriza nosso trabalho e eu fico honrado com cada atitude de reconhecimento".



Mas todo esse hype garante a possibilidade de se viver exclusivamente de surf art no Brasil?
"O mercado das artes no Brasil ainda é complicado, aqui as pessoas gostam da arte mas dificilmente investem nela, já o mercado fora do país é bem mais aberto, hoje ainda não consigo viver da arte, mas ela já tem dado um bom retorno e tem já ajudado em casa.

Mas nem tudo são flores e recentemente Tom divulgou alguns exemplos de plágios e cópias descaradas de suas artes em estampas de roupas e até troféu de campeonato: "Isso tem acontecido muito e principalmente no Brasil, o mais engraçado é que as pessoas valorizam a arte mas nao o artísta, marcas grandes e pequenas tem plagiado artes nao só minhas mas de muitos outros artístas, uma pena, pois pagando por uma arte original, investindo no nome do artísta a marca poderia ter mais respeito no meio do surf e ter um diferencial valorizando ainda mais a surf cultura e quem conhece a arte no surf sabe o que é um plagio e o que é original", afirma, sem no entanto querer generalizar.

Jazzy Way to End a Day from OutroEstilo on Vimeo.


Velho conhecido deste blog, o fotógrafo santista Jair Bortoleto materializou o desejo de interagir com artistas que admirava com o projeto Jazzy Way To End a Day, onde ele propôs que artistas gráficos, a maioria estrangeiros, criassem intervenções criativas para as suas fotografias, em um universo colaborativo simples em sua essência, mas ilimitado em sua forma, tendo em vista a multiplicidade de diálogos que suscita. "Durante a exposição escutei de uma diretora de arte que colaboração entre artistas é o futuro da arte", revela Jair.

Lançada no ano passado a partir de um blog que mostrava o making-off da realização das obras, a ideia de Jair se materializou em uma exposição: "O resultado não poderia ser melhor. Tive apoio de artistas renomados como Jesse Ledoux, e de artistas emergentes da cultura surf e skate como Pete Panciera e Dustin Ortiz. Comecei a promover o evento em março do ano passado, interagindo com os artistas escolhidos e providenciando todos os detalhes para a exposição, como o lugar e a forma de mostrar os trabalhos".



Sobre o futuro do projeto, fica evidente nas palavras de Jair o prazer de ter nas mãos um canal concreto e infinito para seguir criando dentro do conceito Jazzy: "A exposição vai até dia 12 de março e todas as obras estão a venda. Tambem produzimos camisetas e posters que podem ser comprados na loja/galeria Tag and Juice. Pretendo fazer outras versões do Jazzy, e talvez em outras cidades e países. A exposição não é grande, porém bem aconchegante e informativa", finaliza.



Fiquei me questionando o que haveria de comum no trabalho destes artistas com obras tão diferentes entre si e a primeira palavra que me veio a mente foi "simplicidade" - presente nos traços essenciais de Tom Veiga, na pureza da motivação da fotografia de Paulo Armando e na conceituação do mais novo projeto de Jair. Vale lembrar que, apesar da definição da palavra, a simplicidade é por vezes um objetivo bastante complexo de se alcançar e por isso, merece ser valorizada tanto na arte, quanto nos demais aspectos da vida.


imagem de abertura: Great Swell, obra inédita de Tom Veiga.

5 comentários:

cosmonauta disse...

É muito bom ver artistas de surf art se destacando na cena em geral! O trabalho do Tom Veiga é realmente muito bom! A própria ideia de uma surf art parece algo circunscrito, mas taí os caras mostrando que sempre se pode recriar e inovar! Agora, essas "marcas" que existem por aí, que parecem se esmerar em produzir design de gosto muito, mas muito duvidoso ou apenas para um público de 13 anos de idade, bem que podiam ter um pouco mais de valor e apoiar quem faz ARTE COM CONTEÚDO!

Tom Veiga disse...

Falou tudo Daniel, se as empresas de surf investissem na arte como conceito da marca e não como mera publicidade estariam ganhando espaço com os verdadeiros amantes da cultura surf...falou tudo!!!

Anônimo disse...

Realmente a Surfe Cultura é um desafio, principalmente no Brasil. Me faz lembrar do Rock, e o que dizer então do Punk Rock. A princípio isso era loucura, mas chegaram os Beatles, depois The Clash. Então tudo mudou!
Pô um dia essa realidade na Cultura Surfe vai mudar, acho que é só uma questão de tempo.

Anônimo disse...

Realmente a Surfe Cultura é um desafio, principalmente no Brasil. Me faz lembrar do Rock, e o que dizer então do Punk Rock. A princípio isso era loucura, mas chegaram os Beatles, depois The Clash. Então tudo mudou!
Pô um dia essa realidade na Cultura Surfe vai mudar, acho que é só uma questão de tempo.

A.R.T. Project disse...

Po, a arte do Tom é totalmente clean, ondas suaves, cores marcantes. Ele consegue trazer toda a vibe de cada praia, cada onda que ele desenha.
Já viram o desenho de J-Bay? O de Pipe? O cara é mestre. Parabéns Tom e Surf & Cult!

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