14 de dezembro de 2010
Motivado pelo desejo de divulgar personagens e registros da cultura do surf em Florianópolis, o diretor Ademir Damasco superou diversos obstáculos para produzir o documentário "Cupim", que registra a vida e a história de Adilson Cupim, um lendário e controvertido surfista local da praia do Campeche em Florianópolis.
Ao longo de um ano de filmagem, o diretor - mais conhecido pelo apelido Neném - se dedicou a registrar as peculiaridades que fazem de Cupim uma figura emblemática para discutir diversos temas relacionados à cultura surf de Florianópolis e suas intensas e radicais transformações ao longo do tempo - como a delicada questão do localismo, a preservação das raizes da cultura açoriana diante do crescimento desordenado, e a busca por um estilo de vida alternativo onde o surf representa um verdadeiro canal de fuga das vicissitudes da vida moderna.
Nativo da ilha e integrante da primeira geração de surfistas de Florianópolis na década de 70, Damasco acompanhou de perto o crescimento do surf em Floripa, seja como juiz da Fecasurf ou como presidente do Campeche Surf Club, que realiza o tradicional Surfoco, o campeonato mais antigo da Ilha- sempre aos sabados de Carnaval há 21 anos consecutivos.
Com várias produções ligadas às raizes da cultura açoriana na ilha de Santa Catarina - como o documentário Farinhada que resgata a história dos antigos engenhos de farinha de mandioca e um filme sobre a pesca da tainha -, Neném encontrou na inusitada história de vida do polêmico Cupim uma maneira de divulgar ao mundo alguns aspectos que moldaram o surf em Florianópolis ao longo das últimas quatro décadas. Na entrevista a seguir ele conta um pouco sobre este filme que será lançado em janeiro de 2011:
1 - Como surgiu a ideia de fazer um filme sobre o Cupim? Foi dificil convencer ele a aceitar participar do projeto?
O documentário “Cupim”, é o meu oitavo trabalho audiovisual e estou em pré-produção de “Outono”, que vou fazer em 2011. Gosto muito de personagens, as histórias de pessoas me fascinam. O Adilson Cupim é meu amigo há quase 30 anos e é um personagem fantástico. Estava devendo pra galera um documentário sobre surf, mas queria algo diferente, e o Cupim é esse “algo”. Antes de começar a filmar, fiquei um ano conversando com ele, tentando convence-lo. Acabei vencendo no cansaço e fiquei mais um ano convivendo e participando do seu dia a dia.
Cupim na sala de shape
2 - Explique um pouco sobre a história e características deste personagem? O que faz dele uma figura tão polêmica?
Adilson Cupim tem 48 anos, e 34 de surf ininterruptos, surfa todo dia, faça chuva ou faça sol, tendo onda ou não. Talvez seja um dos caras que mais surfou ondas no mundo. (nota do editor: junto com o norte-americano Dale Webster - veja aqui)
Tem personalidade forte, exige respeito para com os locais, e por causa disso, sempre teve dificuldades para lidar com o crowd. Tem aparencia estranha, tem uma prancha estranha (ele mesmo faz), dirige um carro estranho... Mas por traz dessa aparencia, tem um cara cultural, é oleiro (atividade quase extinta na ilha) e tem seu próprio "boi de mamão". Não fuma, não bebe, não usa drogas, é um cara correto. O surf moldou toda a sua vida, sempre o surf primeiro, depois o resto.... Virou lenda!
3 - Conte um pouco sobre a produção deste filme, como os desafios da filmagem, tempo de produção, equipe envolvida e previsão de lançamento?
O documentário terá 40 minutos e não tem apoio financeiro, faz parte do idealismo de quem gosta de filmar. É um trabalho 100% autoral, que consumiu um ano de trabalho com orçamento zero e 3 elementos constantes na equipe: eu como roteirista, produtor e diretor, Gustavo Damasco (filho de Ademir) camêra/edição/ assistência de direção, e Aline Sayuri Yamada - still e produção. Estamos em fase final de edição, com lançamento previsto para a segunda quinzena de janeiro, no salão paroquial da Igreja São Sebastião, no Campeche.
Bastidores das gravações
4 - Qual a sua expectativa em relação a este documentário? Que mensagem você deseja transmitir?
O surf na ilha tem 40 anos, já temos histórias próprias, já passou por gerações. Conhecemos muitos gringos - australianos, americanos, havaianos - que nos contam as suas histórias. Vamos conhecer um pouco da nossa história também.
Vou legendar o filme em inglês, porque queria que os gringos conhecessem um pouco dessa história, já que ela é universal. Em todo lugar do mundo tem pessoas assim (como o Cupim), totalmente envolvidas com o esporte, fazendo dele, seu norte. E contar uma história nossa, nativa, de um cara açoriano, dirigido por um cara daqui, também nativo e estritamente ligado a esse universo.
Conheça mais sobre o trabalho de Ademir Damasco clicando aqui
5 comentários:
Parabens pela iniciativa, otima valorizaçao local,eu vou no lançamento.......
Jabira, Ataíde e Cupim.
Corre que a polícia vem aí...
Super positiva essa inciativa de falar, escrever e mostrar as coisas da nossa terra, já que diariamente somos bombardeados com "coisas" que vem lá de fora!
E o mané, o (ilhéu), é o principal culpado disso tudo, pois sempre supervaloriza as coisas que vem de fora.
Quero dizer que tenho um bom relacionamento com o Cupim, embora não concorde com algumas de suas atitudes dentro d'água, que aliás, mudaram pra melhor nos últimos tempos. Sinais de que está amadurecendo.
Cupim é sem dúvida um personagem controverso do surfe catarinense. Uma figuraça! É um cara do bem, podem acreditar.
MB
Luciano, valeu mais uma vez por nos trazer informações como a da produção desse documentário.
Parabéns ao Ademir Damasco por mais essa produção, o trailer e a entrevista mostram que vem coisa muito boa por aí.
Tomara que a moda pegue e outros documentários sejam produzidos, nossa querida Ilha dos casos e ocasos raros tem um bom punhado de grandes figuras por todos os seus cantos que também merecem esse tipo de registro. No Norte conheço alguns que se enquadram.
Abraço,
Gustavo
P.S - valeu pela citação do post sobre Dale Webster. Em julho de 2007 postei o documentário "Pesca da Tainha", também do Ademir Damasco: http://tinyurl.com/27g7f84
Só digo uma coisa....PARABÉNS! Matasse a pau Neném!!!
Esse será o melhor documentário de surf que vou ver! Até porque convivo com esse personagem, que alias é um cara fora de série. Tem um coração grande, honesto e AMIGO.
Os que julgam o personagem...concerteza são hipócritas.
Sensacional raça...valorizando o que é daqui!
Rafael"Tanga"
Respeito sim, localismo não.
O esporte precisa de símbolos a serem seguidos, e este não é o exemplo que deve inspirar outros praticantes.
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