A.I

3 de novembro de 2010



A perda inesperada e prematura de uma vida desperta sentimentos intensos de perplexidade e impotência diante da fragilidade humana. O falecimento do tricampeão mundial Andy Irons aos 32 anos abalou a comunidade do surf neste Dia de Finados.

A enxurrada de homenagens e inevitáveis frases feitas fazem parte da comoção natural frente a uma notícia desta magnitude. Analisando à distância a trajetória de Irons, fico com a impressão positiva de que ele conseguiu completar um ciclo fundamental para que hoje possa ser reverenciado como um grande campeão e, sobretudo, um vencedor na vida pessoal e não apenas como surfista profissional.

Fosse um ano atrás, estaríamos nas redes sociais lamentando o trágico fim de um ex-campeão que largou tudo e perdeu o rumo, vítima de seus próprios fantasmas internos. Isto porque até abandonar o circuito em 2009, Irons não era uma figura das mais carismáticas, por vezes demonstrando uma certa arrogância – talvez para esconder a timidez - e um espírito agressivo que o colocava frequentemente como um vilão ambicioso, mais preocupado com a conta bancária do que com o espírito de camaradagem do surf. Vale a pena assistir ao filme Blue Horizon de Jack McCoy que aborda bem esta questão.



Depois de largar o circuito por um ano, o seu retorno em 2010 foi marcado por uma lenta evolução nas baterias e uma expressiva mudança de postura e atitude do havaiano em relação ao surf e à própria vida. Relaxado, solicito e amistoso, este novo Andy parecia curtir de verdade e valorizar cada momento, concedendo entrevistas reveladoras, onde tratava com sinceridade e humildade os assuntos mais espinhosos - declarando ao mundo a redescoberta do prazer essencial de surfar, que havia se perdido ao longo dos intensos anos de competição.

A vitória na etapa de Teahupoo, batendo o eterno rival Slater na semifinal foi a sua redenção final como atleta e uma celebração da volta por cima de um ex-campeão amadurecido e em paz consigo mesmo. Como bem disse Julio Adler na ocasião: “Todo mundo adora a volta por cima de um herói. E Andy se tornou o mais adorável dos heróis”



Além de uma legião de amigos e admiradores, Andy se foi deixando esposa e um filho prestes a nascer - o que representa ao mesmo tempo um legado e um ciclo de renovação, que fazem a vida ganhar um sentido concreto. Em seu depoimento para série “I Surf Because” da Billabong, Andy fala sobre as lembranças da primeira onda que já surfou, das reviravoltas de sua vida e do surf como a tábua de salvação para colocar tudo de volta a uma perspectiva positiva.

“I surf because I`m always a better person when I come in” diz Andy na última frase do vídeo. E assim, o seu exemplo se torna um inspirador testemunho de que o surf é realmente capaz de nos tornar pessoas melhores.

Foto de abertura: homenagem
Billabong
. veja aqui e aqui outras homenagens a A.I

3 comentários:

Felipe Siebert disse...

Uma vez eu estava surfando na Praia Mole (Florianópolis). Entraram na água o Andy Irons, Cory Lopez e o Pato (do Nalu). Tinha uma crowd. O pato sentou na minha frente, pegou uma, voltou, pegou outra voltou e continuou, sem se importar muito com o resto. Os dois gringos ficaram no inside, esperando sobrar alguma. Veio uma esquerda pra mim, boa, abrindo, fui acelerando (de pranchinha) e vi um outro cara vindo na outra ponta acelerando bem, pensei "há não vou sair da onda, não quero nem saber". O cara foi chegnado perto, me liguei que era o Andy Irons e resolvi sair da onda. O cara pessou dando um aéreo na junção que eu nunca vi daquilo. Não completou, mas até hoje, assim de perto, foi o maior voo que eu vi. Eu lembro certinho dessa cena.

A.R.T. Project disse...

Estamos até agora chocados com esta notícia...
Um dos maiores ídolos que qualquer surfista poderia ter, Andy deixou sua marca e será lembrado eternamente.
R.I.P. Andy Irons, we hope you are surfing perfect waves wherever you are.

cosmonauta disse...

Véio, quando vi a notícia quase não acreditei! Não sou um grande fã de tops do surf competitivo, mas, acima de tudo, todos têm sua própria história no surf e a do Andy Irons foi uma dessas histórias que merecem reconhecimento. Boas ondas ao surfista havaiano onde ele estiver!

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