19 de outubro de 2010
Na manhã da última sexta feira fui pegar umas ondas na Praia Mole e tive o privilégio de surfar ao lado de Adriano de Souza, o mais importante surfista profissional brasileiro dos últimos anos, e assistir de camarote a uma das cenas de surf mais impressionantes que já presenciei, seja em vídeo ou ao vivo.
Quem conhece a Mole sabe que o canto esquerdo costuma ficar bem concorrido nos dias clássicos de ondulação de leste. Mas não era o caso neste dia de mar irregular, onde algumas direitas quebravam bem ocas e pesadas com o vento terral segurando bem o drop e alisando as paredes sólidas de 1,5 metro. Já quase no fim da sessão sem crowd junto ao meu amigo Manuel Cabral, vejo mais pro meio da praia um surfista acelerando com estilo numa direita que fechou. O porte físico do sujeito e o adesivo da Oakley não deixavam dúvidas: era Adriano de Souza.
Pouco depois, estou remando de volta ao outside quando vejo ele na minha frente remando para uma das maiores séries do dia. O drop atrasado, quase atrás do pico, parecia impossível, ainda mais quando o vento segurou o seu corpo suspenso no ar e a prancha ficou totalmente apontada para baixo, sem o pé da frente para sustentá-la.
De alguma maneira Adriano conseguiu empinar a prancha de volta antes da espuma atingi-lo, direcionando-a para a direita, segurando a borda e se encaixando no único caminho possível de sobrevivência: o tubo. Antes de furar a espuma ainda vi ele ser cuspido para fora em triunfo. Minha reação natural e puramente instintiva foi a de gritar a plenos pulmões liberando a descarga de adrenalina proporcionada pela cena. Mineirinho fez o mesmo e acenou de volta para mim com um sorriso de orelha a orelha.
De volta ao outside ele se assombrava em voz alta: “Tu viu isso?! O que foi essa onda?! Alucinante!” E ali ficamos analisando os detalhes da cena na maior empolgação e foi legal perceber que, mesmo para um surfista do calibre de Adriano, aquele havia sido um momento memorável, dado o grau de dificuldade e emoção proporcionado pela onda.
O efeito mais interessante de presenciar um momento tão intenso de habilidade em uma sessão de surf é a inevitável “pilha” que isto provoca nos demais surfistas que estão no local. Assim, eu e meu amigo resolvemos estender nossa permanência no mar e passamos a nos jogar com mais intensidade em cada nova série que surgia no horizonte - como aqueles moleques que vão direto jogar bola até a exaustão depois de assistir a uma vitória do Brasil em um jogo de Copa do Mundo.
Adriano continuou distribuindo pauladas e dando vôos sobre o lip fazendo tudo parecer fácil e corriqueiro - apenas mais um dia de treino. Durante as calmarias engatamos uma conversa, onde ele, muito simpático e receptivo, falou sobre as constantes vindas para Floripa, apesar de manter a sua base na Califórnia e no Guarujá: “Aqui em Floripa encontro toda a estrutura que preciso”, resumiu ele, que escolheu a Mole, como pit stop antes de embarcar para a próxima etapa do WT em Puerto Rico.
Fotos cortesia: James Thisted (que infelizmente não chegou a registrar a onda aqui descrita). Veja aqui a matéria que ele escreveu sobre esta sessão de surf na Mole para o site Waves.
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