Do Leme ao Pontal

11 de outubro de 2010



A brincadeira com a música que celebra as belezas naturais do litoral da cidade do Rio de Janeiro é inevitável ao pensar em um título para uma entrevista com o fotógrafo e jornalista Beto Paes Leme - seja pelo seu sobrenome, mas, sobretudo, porque ao longo de sua extensa trajetória profissional ele se especializou em explorar a combinação maravilhosa de elementos do seu quintal de casa.

Hoje editor da revista Soul Surf, este carioca de 39 anos tem a oportunidade de compartilhar através de suas lentes um belo arquivo de imagens do surf e da cultura de praia do Rio de Janeiro. Em entrevista exclusiva ao Surf & Cult, Beto revela também um pouco de sua personalidade e visão de mundo, onde a busca pela simplicidade se traduz em uma postura serena e positiva em relação à vida.



Copacabana e Urca

1 – Fale um pouco sobre o início do seu envolvimento com o surf e a fotografia?

Comecei quando morava em São Conrado. Para mim a praia do Pepino é uma das mais bonitas que conheço, cercada por montanhas como o Dois Irmãos e a Pedra da Gávea. As ondas por lá também são muito boas. Eu era um surfista comum de São Conrado, estudante de jornalismo, e essa natureza toda que me cercava despertou em mim a vontade de eternizar os momentos que via dentro da água, de me expressar através da fotografia.


Chalita em São Conrado

2 – Podemos dizer que você é especialista em fotografar as ondas do Rio. Na sua visão, quais as principais características que tornam as praias e as ondas da cidade tão especiais?

Acho que acima de tudo o Rio é um prato cheio para qualquer fotógrafo. Uma cidade de contrastes, entre a natureza e o urbano, entre o luxo e a pobreza convivendo simultaneamente. Essa geografia incomum, com rochas gigantes em forma de morros, lagoas e uma densa floresta que abraça a cidade tornam o Rio um lugar especial. As praias têm areias brancas e são emolduradas por montanhas magníficas muito próximas do mar que misturam-se ao cenário urbano dos prédios de Ipanema, Leblon e Copacabana.


Arpoador

Por outro lado, há também refúgios como a Prainha e Grumari onde em poucos minutos de carro podemos desfrutar verdadeiros santuários ecológicos sem qualquer tipo de intervenção imobiliária. E o Rio ainda tem uma peculiaridade de ter várias praias com ondas tubulares quebrando perto da areia e com água clara quase o ano todo. Para quem fotografa dentro d`água isso é muito bom.


Prainha

3 – Você construiu as suas próprias caixas estanques para poder fotografar de dentro d`água. Fale um pouco sobre a evolução do seu equipamento ao longo dos anos?

Construí minha caixa estanque a partir das dicas do grande fotógrafo carioca Rick Werneck. A verdade é que eu não tinha grana para comprar uma boa lente teleobjetiva e uma caixa importada também era cara. A fotografia aquática era a opção mais barata para se iniciar nesse meio e ainda haviam poucas pessoas se dedicando a isso.


Arraial do Cabo

Era uma época que usávamos filmes 35mm. Eu improvisava um laboratório P&B no banheiro de casa, depois passei a usar filmes em chromo, que eram bem caros... mas era um tempo muito legal.

Nunca fui um cara de equipamentos de ponta. Até hoje penso no custo benefício de se ter uma máquina e uma lente de "300 milhões" dólares exposta à maresia e sujeita a parar no fundo do mar. Hoje tenho máquinas melhores, as câmeras digitais evoluíram muito em pouco tempo, mas ainda uso minhas caixas estanque que nunca me deixaram na mão.


Saquarema

4 – O mercado de fotografia está cada vez mais concorrido com as facilidades da tecnologia digital. Como você busca diferenciar o seu trabalho? Como funciona a sua programação para buscar os melhores momentos para fotografar?

Estou sempre atento às condições da natureza, acompanhando os dias de ondas, de boa luz, em contato com bons surfistas. Basicamente é isso que os fotográfos que trabalham com surfe fazem. Cada um tem seu modo de ver o mundo e acho que é isso que diferencia o trabalho de um e de outro.


Copacabana vista do prédio de Beto

5 – Quais as fotos de surf mais marcantes que você já produziu?


Acho que ainda não produzi. Espero um dia chegar pra você e dizer: "Essa é minha melhor foto de surfe".




Leblon em dois momentos

6 – Qual lugar que você ainda não visitou que mais te motivaria a viajar para fotografar? Por que?


Vários lugares ainda não fui. O Havaí e o Taiti, por exemplo. São locais onde estão as melhores ondas e os melhores surfistas. Sem dúvida ainda quero conhecer. Mas sinto-me mais atraído a conhecer lugares fora da rota tradicional do surfe.




Ipanema em dois momentos

7 – Quais os profissionais de fotografia dentro e fora do surf que você mais admira?

Existem ícones como Bresson, Sebastião Salgado, Art Brewer e Dustin Humphrey. Mas posso afirmar que admiro todos aqueles que de alguma forma me fazem ver as coisas com encantamento e beleza.



Stephan Figueiredo voando no Pepino e Marcelo Trekinho entubando no Leblon

8 – Qual é o seu quiver e a sua onda favorita?


Tenho algumas pranchas antigas em casa que não consigo me desfazer, mas também não considero um quiver. Atualmente minha prancha do dia a dia é uma 5`11 com bastante volume e borda. Sempre preferi as ondas perto de casa. Por muito tempo São Conrado foi minha preferida. Hoje, com o tempo cada vez mais curto, minhas escolhas recaem sobre Copa e Ipanema. Mas a melhor onda que já surfei foi sem dúvida em Lagundry Bay, Nias.





9 – Além de surfar e fotografar, o que gosta de fazer nos momentos de lazer?

Curtir o clima rural da Serra da Mantiqueira com minha família, batucar em blocos e escolas de samba no Rio e, infelizmente, sofrer com os jogos do Botafogo



Copacabana em dois momentos

10 – Como você resumiria a sua relação com o surf e o que ele representa em sua vida?

Para mim, o surfe é um estado de espírito, uma prática que nos ajuda a levar a vida de maneira saudável e alegre, bom para o corpo e para a alma. Uma atividade que nos faz interagir plenamente com a natureza. Mas não é tudo na minha vida. Existem muitas coisas legais que a vida oferece e que podemos e precisamos fazer, sem ficar naquela "bitolação" de que tudo é onda, sol e praia.



Leblon e Prainha

Todas as fotos cedidas por Beto Paes Leme - crédito de abertura: praia de São Conrado

13 comentários:

ëLMíN disse...

Perfect pictures Wow!

Unknown disse...

Adorei as fotos!!! Vc manda muito bem!!! O Nelson enviou o link pra gente!!! Abalou, hein!!!
Fred (... de Goiânia-Go)

Maurio disse...

Muito bacana o material do Beto.

Blog da Nativa Transportes | Tiago Cardoso | PUCPR disse...

Iai Luciano,

Mais uma vez mandando muito. Alta entrevista, parabés pelo conteúdo do blog, estás diferenciando-se.

Abraço,
Tiago cardoso
www.uponboard.com

Anônimo disse...

Parabéns pelo material apresentado... Pouca vezes, vi as ondas cariocas em tantas cores!!!
Angulo e timing perfeitos.
Isso é arte.
@Rodrigo_Osborne

Phil Rajzman disse...

Muito bom!!
Beto Paes Leme e casca grossa!!
Phil Rajzman

Anônimo disse...

Foda!
Marcelus

A.R.T. Project disse...

Maneiríssima a matéria com o Beto.
Além das ótimas imagens o cara transparece um estilo próprio de encarar a vida, sempre numa tranquila e curtindo fazer as coisas que o satisfazem.
Luciano mais uma vez arrebentou com o post. Parabéns!

Renato Castanho disse...

parabéns pela matéria!

Renato disse...

Bacana o post, eu particularmente não conhecia o trabalho do Beto a fundo... fotos sensacionais.
Abs.
Renato

cosmonauta disse...

Já conhecia a revista, mas não o cara por trás dela. Muito legal!

Anônimo disse...

O olhar do Beto faz a gente ver melhor!
Abraço,
Bomba

Anônimo disse...

Olá Beto, queria saber se rendeu alguma imagem da Urca 16/05/11. Quem fala é o bodyboarder Rodrigo Divó (prancha vermelha). Se não for incomodar me mande um email (drrodrigocardoso@hotmail.com);
Obrigado;

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