25 de janeiro de 2010
Desde moleque reconheço o nome de Bruno Lemos como o autor de tantas fotos creditadas nas principais publicações de surf do Brasil - em especial, nas coberturas anuais das temporadas havaianas.
Mais recentemente, por conta do projeto do documentário Montanhas D`Água, tive a oportunidade de trocar uns emails e conferir parte do extenso acervo deste fotógrafo e videomaker carioca, radicado no Hawaii há quase duas décadas. Minhas impressões positivas apenas refletem, à distância, as opiniões e palavras invariavelmente afetuosas de tantas outras pessoas envolvidas com o surf ao se referirem a ele.
Ross Clarke-Jones - Jaws - 2010
A infalível mistura de simplicidade e talento deu a Bruno a oportunidade de viver uma trajetória profissional de sucesso no North Shore, onde formou sua família e conquistou o respeito e a amizade da comunidade local. Para os surfistas brasileiros que, como tantos outros “haoles”, desembarcam todo ano na “meca do surf” em busca de um lugar ao sol, o nome de Bruno é uma referência positiva a ser seguida.
Sua generosidade se revela no simples fato dele ter encontrado tempo para responder ao pedido de entrevista para o Surf & Cult, além de selecionar algumas imagens recentes, justamente na época de maior demanda profissional, nesta que é uma das temporadas mais movimentadas em termos de boas ondas.
A franqueza e o desprendimento de Bruno para tratar de todo tipo de assunto se revela em opiniões sinceras sobre os prazeres e as dificuldades da vida de fotógrafo e filmaker de surf no local onde ele é mais representativo e concorrido: o Hawaii.
Jaime O`Brien - Pipeline - 2010
1 - Como está a temporada no North Shore até o momento?
A temporada ate o momento está incrivel. Nunca se viu tanta onda boa com tanta constância, mas o mais impressionante está sendo a quantidade de ondas grandes acima de 20 pés . Nos últimos anos isso acontecia uma ou duas vezes durante a temporada, mas dessa vez já rolou umas sessões em Waimea que ninguém tinha visto em muito tempo. Sem dúvidas uma das melhores temporadas.
2 - Como é a sua rotina durante a temporada de inverno?
Na verdade, isso até complica um pouco a minha rotina pois tenho um trampo fixo que ajuda a me manter durante o ano todo, então para conciliar as duas atividades fica difícil. É muita correria, pois tento fotografar bem cedo, vou para o trampo e depois direto para a praia fotografar novamente.
As vezes, quando o mar fica muito bom, tento pedir um "dia de folga " para ficar só nas imagens, mas tem valído a pena o esforço e tenho conseguido um bom material tanto em foto quanto em vídeo.
Jaws - 2010
3 - Você está há quase duas décadas morando no Hawaii. Como observa as mudanças culturais no berço do surf ao longo desse periodo?
Eu cheguei aqui no North Shore em 1991, quando não tinha muitos brasileiros na área – era possível contar nos dedos. O localismo era bem mais agressivo e o aluguel era relativamente barato. Hoje em dia parece que o português é a segunda língua mais falada no North Shore e até os locais se arriscam a falar algumas palavras no nosso idioma. Já o aluguel e preços das casas são caríssimos, três vezes maior do que quando eu cheguei aqui .
O trânsito na região é um absurdo, pricipalmente quando tem onda . Acho que o surf se tornou tão popular que acabou destruindo aquela vibe "rural" de "interior". Issso aqui parecia a Guarda do Embaú no início da década de 80 e hoje em dia virou "haolewood"!
4 - Profissionalmente, por um lado você tem a vantagem de trabalhar na região mais fotogênica para o surf, mas por outro, a concorrência é enorme e as imagens inevitavelmente se repetem. Como você procura se diferenciar em seu trabalho? Quais os caminhos para inovar e conseguir capturar imagens originais?
Achar novos e diferentes ângulos aqui no North Shore é algo muito difícil. Até hoje fico revendo fotos antigas da década de 70 e é tudo muito parecido. Mas volta e meia você vê algo diferente que algum fotografo fez e ficou legal. Eu particularmente não tenho me preocupado em fazer algo muito diferente não. Muitas vezes monto o tripé ao lado de vários fotógrafos e mando bala. As vezes, por sorte, sai algo diferente , mas realmente acho que deveria me preocupar mais com esse detalhe.
Na verdade, acho que as vezes por estar aqui há tanto tempo, tudo parece tão igual e tão normal que acabo perdendo o feeling de algumas coisas . A tendência é que a pessoa que está vindo pela primeira vez esteja mais empolgada para fotografar "tudo", enquanto que para mim, talvez só me empolgo quando for muito especial. Nessa, eu talvez perca muita coisa boa, mas não sei, é uma faca de dois gumes.
5 - Na sua opinião, quais os elementos essenciais que tornam a fotografia de surf tão especial em comparação com outros esportes e imagens aquáticas? Neste universo, quais os artistas que você mais admira e que inspiram o teu trabalho?
Acho que o elemento principal são as ondas, principalmente as ondas grandes e as tubulares, que são coisas tão lindas, que sem duvidas representam a principal diferença entre o surf e os outros esportes. O mar é algo muito interesante. Estar na praia também é algo que ajuda, pois não tem ambiente melhor. Então são vários elementos que fazem do surf o melhor de todos os esportes, tanto para quem pratica quanto para quem assiste.
As cores de um fim de tarde com ondas é um visual incrível. As cores do céu, da água, a textura das ondas, são estes os elementos que me inspiram muito para fotografar. Acho que por isso posso falar seguramente que a maior inspiração para o meu trabalho vem de Deus, o criador de tudo isso.
6 - Fale um pouco sobre o equipamento que você usa no momento e quais os seus projetos futuros em termos de produção fotográfica e audiovisual?
Nunca fui de comprar os equipamentos mais caros. Pelo contrário: teve uma época que minha filosofia era tentar fazer grana com o menor investimento possível, mas depois de um tempo acabei percebendo que deveria investir um pouco a mais. Contudo, se você for querer acompanhar o mercado vai ter que trocar de equipamento a cada seis meses, então eu dei uma relaxada.
Hoje, para fotos tenho três corpos, duas Cannon 20d e uma 30d , algumas caixas estanques diferentes, 1 spl com flash e uma taro housing , fora as lentes básicas: 600mm , 70-200mm , 15mmm , 28-135mm . Para vídeo adiquiri duas cameras de hdv 1080, uma maiorzinha sony hdv1000 para os documentários e uma menor Cannon Vixia 40 para a água.
Em termos de projeto tem tanta coisa, mas no fim do dia, tudo se resume em tempo e em orçamento. Realísticamente falando, gostaria de poder terminar um documentário de ondas grandes que venho captando imagens há quase uma década (Montanhas D`Água) e poder tambem melhorar a qualidade do meu programa Kaunala Road no canal Woohoo. Na área de fotografia, não seria nada mal se pudesse publicar um livro com algumas imagens que tenho separadas e também poder imprimir umas fotos grandes e expor para uma galera ver e apreciar um pouco do meu trampo.
Acho que esse tem sido o meu maior problema: estou sempre tão ocupado e empolgado captando as imagens, que acabo esquecendo um pouco de mostrar e transformar as imagens em algum tipo de lucro ou renda direta no meu "business". No fundo, acho que todo artista se preocupa apenas com a parte mais "soul" do negocio e esquece da parte financeira.
7 - Você consegue arranjar tempo para surfar? Quais são os seus picos preferidos no Hawaii?
Essa é boa! As vezes até esqueço que sou surfista (Bruno já competiu circuitos amadores no Brasil), principalmente no auge da temporada quando todos os profissionais estão no North Shore eu viro fotografo profissional mesmo. Mas depois de dois ou três meses neste ritmo, volto ao normal e tento surfar sempre que o mar está bom.
Geralmente gosto de surfar em frente de casa ,quando morava em Sunset, só surfava lá, independente das condições. Agora morando em V-land só surfo aqui em frente. De vez em quando também caio em Sunset ou Waimea. São as três ondas do North Shore que mais gosto de surfar.
Para conhecer um pouco mais da história de Bruno Lemos, clique aqui.
Confira também o portfolio e o blog.
Um comentário:
Show de fotos, uma mais linda que a outra. Parabéns ao Bruno que além de viver fazendo o que gosta faz muito bem feito!
Parabéns pela entrevista!
Aloha!
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