14 de dezembro de 2009
“Foi criada no Brasil a primeira prancha 100% ecológica do mundo.” Esta notícia merece estar estampada com letras garrafais em toda publicação especializada em surf.
Mas segundo Daniel Aranha, idealizador das e-boards, não foram todas as publicações que acreditaram nesta iniciativa, mesmo após o início da comercialização destas pranchas em setembro deste ano nas lojas da Osklen.
Posso apenas especular os motivos para isto, mas talvez o alarde de marketing criado por esta afirmativa seja demasiado impactante, a ponto de despertar uma certa incredulidade naqueles que há tantos anos ouvem falar de iniciativas “verdes”, que, embora louváveis, acabam não se sustentando numa análise critica mais aprofundada.
Vamos então aos argumentos apresentados pelo material de divulgação da e-board para compor o conceito 100% ecológico:
Matéria-prima:
- Resina: especialmente formulada para pranchas, ela possui características mecânicas de resistência e flexibilidade superior as disponíveis no mercado. Não tem cheiro. A sobra do processo de cura (secagem da resina) com o endurecedor é H2O (água!). A resina possui filtro de proteção UV para retardar os efeitos causados pelo sol.
- Bloco: de EPS (poliestireno expandido) com a vantagem do uso de água para sua expansão e não solvente como os demais. Apenas 2% de sua massa são compostos de poliestireno, os 98% restantes são ar. Sua massa é 100% reciclável.
- Longarina: em caixeta ou bambu, ambas com o certificado de reflorestamento ambiental FSC.
- Cor: a pigmentação e coloração da prancha utilizam bases naturais e orgânicas.
Cadeia Produtiva:
- Todos os materiais utilizados na fabricação da e-board não dependem mais da extração de petróleo ou qualquer outra matéria-prima de origem mineral, além de serem todos orgânicos ou reciclados.
- Toda a cadeia produtiva é livre de sobras e desperdício, reduzindo o uso desnecessário de matéria-prima. Os resíduos são reciclados em novos blocos e também incorporados na produção de asfalto pela empresa Greca Asfaltos.
- A e-board é a primeira prancha do mundo a receber um selo carbon free através do programa ‘Carbono Social’, certificado pela CANTOR CO2 / GPSA, parceiras do projeto.
- Todo gasto gerado e oculto na fabricação das pranchas - desde a energia elétrica até a entrega da prancha ao cliente via transportadora - também é neutralizado.
- Quem compra uma e-board, além de ajudar a natureza, incentiva o trabalho social em comunidades carentes, que costuram as e-bags de tecido em lona PVC reciclável, e escolhe um projeto de proteção ambiental no qual a e-board faz uma doação a cada prancha comprada – como o Sea Shepard e a Surfrider Foundation, por exemplo.
- O produto é autenticado e certificado pelo Instituto-e, organização não governamental, referência em certificações ambientais.
Avaliando todo este conteúdo, somado a alta qualidade visual do website da e-board e o fato desta iniciativa estar licenciada para uma marca do alcance da Osklen até o início de 2010, me parece incontestável a consistência e a relevância deste projeto como instrumento inovador para a mudança de paradigma da indústria do surf.
Conversando com Daniel Aranha, percebi uma pessoa capacitada e atenta à importância social de um comportamento consciente diante do meio ambiente. Foi ele quem idealizou, desenvolveu e patenteou os processos ecológicos especialmente destinados para a fabricação das pranchas de surf – ao invés de apenas adaptar tecnologias utilizadas para outros fins industriais.
Engenheiro de materiais, surfista desde criança e designer de pranchas há alguns anos, ele reuniu em seu projeto as melhores práticas dos processos de fabricação e gestão ambiental para fabricação de pranchas e o comércio justo e sustentável. “A expertise hoje em dia, está em quem adapta, transforma ou cria produtos ecologicamente corretos em toda sua cadeia produtiva”, afirma.
Ele conta que o projeto ganhou forma a partir do desenvolvimento de uma resina ecológica a base de água, após cinco anos de pesquisas. Hoje ele é o shaper/designer da marca e cria todas e-boards dentro do conceito personalizado e artesanal (custom hand made) em seu estúdio localizado na Vila Madalena, em São Paulo.
Em busca de informações mais aprofundadas, questionei alguns pontos mais técnicos da composição das pranchas, principalmente na produção dos blocos e da resina: “Não posso afirmar que é uma resina vegetal, mas sim, uma resina feita a base de água e com agentes protetores UV que não depende mais da tradicional cadeia benzênica (extremamente cancerigena). No caso do bloco, ele é expandido após um processo de aquecimento, mais a pressão de um óleo vegetal”, explica Daniel.
Parece-me natural que o desenvolvedor do projeto se reserve ao direito de preservar alguns “segredos industriais” sobre a produção das e-boards - principalmente na questão da resina, haja vista que, pelo que tenho pesquisado, este sempre foi o maior entrave para se criar uma prancha 100% ecológica. A razão é simples e realista: um esforço valioso de pesquisa merece sim ter a sua recompensa financeira.
Esta premissa comercial pode ser a chave do sucesso para um produto inovador que custa o dobro de um convencional por conta de suas qualidades superiores e aplicações funcionais em toda sua cadeia de produção: “Todo resíduo gerado na fabricação das pranchas é reciclado e vira material processado para ser incorporado ao asfalto na pavimentação de `vias verdes’, em um projeto inédito no Brasil”, ressalta.
Por outro lado, esta postura pode suscitar questionamentos sobre a e-board ser apenas uma “jogada de marketing” em cima da consciência coletiva, e uma iniciativa que não contribui verdadeiramente para a expansão da sustentabilidade, pois não permite disseminar esta tecnologia limpa de maneira livre e democrática.
Particularmente, esta me parece uma questão menor, pois na minha visão, toda iniciativa desta natureza promovoe algum avanço em direção à sustentabilidade. Visar o lucro não é nenhum pecado e sim a única forma de sobrevivência de um negócio, desde que isto não signifique passar por cima de outras pessoas a qualquer custo – mesmo porque, patentes tem prazo de validade e as verdadeiras boas ideias sempre encontram os seu caminho de evolução.
Quem pesquisar o conteúdo deste blog irá se deparar com matérias sobre diversas iniciativas para criar uma cadeia produtiva limpa na indústria do surf, como o projeto Green Foam/Resurf na Califórnia. Assim, diante de tudo o que pesquisei até o momento, posso afirmar que o projeto da e-board está um passo a frente de tudo o que já foi feito no mundo até agora.
Para conferir de perto, é possível encomendar as inovadoras e-boards em 6 modelos diferentes, entre eles: Pranchinhas, Fishboards e Old School, além dos pranchões Fun, Longboard e Stand Up Paddle, ou ir até os endereços disponíveis no site da empresa.
Links: eboards.com.br/eboards blog
Fotos: Divulgação
3 comentários:
Fantastico !!!Fique de cara... un trabalho excepcional...
Agora o surfista poder optar por ser parte do problema ou parte da soluc,ao...
Boa matéria. Independente de ser 100% ou 50% ecológica, fico feliz de ver as empresas criando iniciativas para utilizar produtos menos agressivos nas pranchas. É um grande benefício tanto para natureza (onde estamos inseridos) como um benefício direto para os próprios shapers.
Resta saber até onde vai o interesse dos clientes em incentivar as empresas que apostam nessa linha. São poucos que tem esclarecimento suficiente para valorizar este aspecto.
O Marinho das pranchas Epoxi Systen (produzidas em Tubarão, cidade 200 Km de Floripa) faz também um belo trabalho. Tudo se recicla na fábrica. Até a água utilizada. Vale buscar mais informações: http://www.mfpranchaepoxi.com.br
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