Registros da Laje

27 de julho de 2009



Recebi do tow-surfer Thiago Jacaré (foto) um extenso arquivo de imagens realizadas na Laje da Jagua que registram um pouco da ação e da adrenalina vividas nesta que é sem dúvidas uma das mais incríveis ondas já surfadas em águas brasileiras.

Desde criança observo esta onda da varanda da casa de praia dos meus pais em frente ao antigo salva-vidas na Praia de Jaguaruna, no sul de Santa Catarina. Aquela surpreendente espuma branca na linha do horizonte sempre despertou fascínio e curiosidade. Na época, chamavamos a laje de parcel e ouviamos relatos de pescadores de caça submarina que se aventuravam no local nos dias de flat.


Vista aérea da laje

Ao subir as dunas conseguiamos uma nova perspectiva, revelando que a laje não era tão longe assim, e, nos dias de ressaca, mesmo a distância podiamos detectar paredes lisas dependendo da direção e intensidade do vento e da ondulação. Na época não havia jet-skis e muito menos o tow-in. O grande sonho era poder ir ate lá de barco, ver a onda de perto e comprovar que ela poderia ser surfada a remo pelo mais destemido dos big riders.


Alguns canudos entram quadrados!

Histórias de antigos naufrágios e de pessoas que ficaram a deriva das fortes correntes do local ajudaram a criar a mística em torno do parcel. Um dos pontos de navegação mais perigosos da costa brasileira, a extensa faixa de mais de 500 kms de mar aberto que vem desde o Rio Grande do Sul encontrou na construção do Farol de Santa Marta em 1890 a luz para guiar as embarcações com segurança até água menos revoltas.

Se o marinheiro noturno enxergar uma luz vermelha vindo do farol é sinal de que está na rota de colisão com a montanha submersa conhecida como Pedra do Campo Bom, que chega a ficar a menos de 01 metro de profundidade em seu ponto mais raso, onde quebra a poderosa onda da Laje da Jagua. Um encontro em alto mar que produz uma potente direita - com seu incrível degrau e bolhas que dão a real dimensão do quão raso é o fundo de pedra - e uma esquerda rápida, que quebra perfeita nos dias clássicos.


As pedras que fazem a máquina de ondas rodar

10, 08, 5,3 kms... a distância estimada entre a praia e a laje foi encurtando a medida em que o local foi sendo desbravado. A partir de 2003, com o esforço do pioneiro surfista gaúcho Zeca Sheffer e do big rider carioca Rodrigo Resende, a laje foi finalmente inaugurada para o surf. Local da Ilha dos Lobos em Torres (RS) - uma onda irmã da Laje da Jagua -, Zeca foi o principal surfista e divulgador do pico até falecer em um trágico acidente de automóvel em 2006.


Zeca Sheffer

A partir daí, o tow in na laje evoluiu rapidamente graças ao empenho de surfistas como o local Thiago Jacaré e os integrantes da Atow-inj (Associação de Tow-In de Jaguaruna), que hoje monitora o surf no local e recebe big riders de todas as regiões do Brasil. A Laje da Jagua passou a ser documentada regularmente, alcançando boa repercussão na mídia nacional e inclusive sediou o primeiro campeonato brasileiro de Tow-in em 2006 - vencido pela renomada dupla Carlos Burle e Eraldo Gueiros.


Carlos Burle

Na minha visão, o respeito e a atitude são as duas forças principais que devem reger a relação do homem com este poderoso fenômeno da natureza que são as ondas gigantes em alto mar. No perfil do surfista de tow-in vemos a dedicação integral para desfrutar a adrenalina proporcionada por ondas como a da laje. Um caminho que exige planejamento, paciência, treino e renúncia de muitos outros prazeres e afazeres do dia-a-dia, afim de poder estar preparado e no lugar certo nos poucos dias em que as condições de vento, swell, temperatura e pressão estão perfeitas. Uma experiência que, por mais que seja extensivamente repetida, nunca será banal.



Com a popularização do tow in muitas outras lajes estão sendo desbravadas pelo mundo afora e o mistério da Laje da Jagua hoje se resume em saber qual o maior tamanho de onda possível de ser surfada no local. De minha parte, ainda aguardo a valiosa oportunidade de ver o parcel funcionando de perto. A única possível vantagem desta espera é que ela preserva a magia do parcel.

3 comentários:

Maurio Borges disse...

Diz aí Luciano, tudo bom!
Valeu pela visista.
Dei uma conferida no teu blogue e achei bem bacana. Estou mudando (dando uma geral) no Alohapaziada. No novo coloco (fica pronto nos próximos dias)faço um link pro teu blogue, ok.

Abração e sucesso!
MB

Unknown disse...

Salve, Burin.

Parabéns pela iniciativa. Está demais o novo Blog. Principalmente este post sobre a laje da nossa Jagua.

Grande abraço,

Papa

MarcosBG disse...

jagua rockz.

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