14 de julho de 2009
No início do ano estive no lançamento do livro O Surfista Peregrino de Sidão Tenucci na Livraria Saraiva do Shopping Iguatemi em Floripa. Diante da parca literatura nacional disponível sobre o surf, a publicação desta obra me motivou a conhecer de perto uma das poucas figuras que decidiram encarar a tarefa de transmitir a magia do surf através de um enredo mais elaborado.
Mistura de surf-trip com livro de auto-ajuda (sem o tom pejorativo do gênero), a narrativa percorre locações paradisiacas na Maldivas, Sri Lanka e Índia registrando a jornada espiritual de um personagem enigmático batizado de Surfista Peregrino. Dividida em cartas para um interlocutor urbano - o próprio autor -, a tradicional (e talvez já desgastada) metáfora da busca da onda perfeita como um rito de passagem e evolução, que encontra paralelo no dia-a-dia de qualquer ser humano, ganha substância e relevância na abordagem poética e decorada com generosas doses de realismo mágico.
Meditação, respiração e reflexão são termos que perpassam toda a jornada, repleta de simbolismos e referências à filosofia oriental. Um universo místico, onde o autor expõe a sua visão onírica sobre o surf como uma experiência espiritual de conexão com o universo, que vai muito além de uma simples atividade física. Uma viagem bem contada e que vale a pena ser percorrida.
O currículo do autor o credencia como uma lenda do surf brasileiro. Para quem começou a curtir o surf na primeira metade dos anos 80, a marca Ocean Pacific representava a essência do estilo de vida ligado ao esporte. Ao trazer a OP para o Brasil, o jornalista Sidão contribuiu decisivamente para consolidar a febre do surf como sinônimo de juventude e irreverência, uma moda que conquistou um público que ia muito além dos praticantes do esporte.
E foi sobre isso que conversei com o simpático Sidão durante a sessão de autografos do livro. Aproveitando que não havia muita gente por lá, lembramos de alguns anúncios clássicos da OP nas revistas - como aquela sua foto cabeludo, segurando as mãos como quem teve uma grande ideia, numa trip para o Peru em 1973, ou a série Water Soul - sempre com imagens que conseguiam capturar a essência singular do ato de deslizar sobre as ondas com uma prancha.
Comentei sobre minha percepção negativa a respeito da comunicação feita pelas grandes márcas de surfwear nos dias de hoje e sobre a necessidade de uma mudança radical na visão mercadológica do surf. Precursor no Brasil do que podemos chamar de surfwear para as massas - qual adolescente dos anos 80 não quis ter uma calça cargo da OP? -, Sidão ouviu meus comentários em silêncio e preferiu não elaborar muito sobre este assunto. A verdade é que ele parece hoje estar muito mais entretido com a literatura do que com a administração do negócio - ele escreve regularmente uma coluna no site Waves.
Seja como for, a OP continua a existir no Brasil e lá fora (a marca surgiu originalmente na Califórnia), mesmo sem o hype dos tempos áureos. A "essência" a qual ele se refere na dedicatória do livro é a mesma que pode ser acessada no vídeo institucional do site da OP, que resume bem o espírito que cativou uma grande parcela da juventude e ajudou a popularizar o surf no Brasil.
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